Um convite para sonhar juntos

Com muita frequência o Papa Francisco fala dos seus sonhos. Utilizando esse recurso, ele se aproxima de cada pessoa, pois sonhar faz parte do viver. Na Exortação Apostólica Evangelli gaudium, texto em que o Papa abre perspectivas para uma nova etapa evangelizadora, ele diz numa das passagens: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade” (EG 27).

Quando escreve a Exortação Pós-sinodal Querida Amazônia, ele apresenta quatro sonhos para a Amazônia: “Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos” (QA 7). 

Recentemente, foi publicado pela editora Intrínseca, um livro muito instigante: “Vamos sonhar juntos. O caminho para um futuro melhor”. Trata-se de uma conversa do Papa Francisco com o jornalista britânico Austen Ivereigh. Sem medo de exagero, o livro deveria ser lido por todo o clero e, também, por todo o laicato. Aos críticos do Papa faria muito bem uma leitura atenta e sem preconceitos. Os homens e mulheres que sonham um mundo novo são chamados a ler esse livro para dialogar, talvez, com o maior líder mundial nesse momento da história. Não se trata, pois, de uma obra exclusiva para religiosos. O texto é muito pertinente para conhecer as principais intuições do primeiro Papa latino-americano. Os diálogos e os escritos foram produzidos no contexto da pandemia do novo coronavírus. Além do prólogo e do epílogo, três capítulos se intitulam, respectivamente: Tempo de ver; Tempo de escolher; Tempo de agir. Francisco considera esse “o momento para sonhar grande e repensar nossas prioridades”. Junto de seus sonhos, semeia esperanças de uma economia inclusiva e guiada pela ética e pela política, não uma economia autônoma; de nova percepção e compromisso com a criação ou Casa Comum; de uma Igreja marcadamente sinodal, em que a escuta dos seus membros seja constante, em favor da dinâmica do discernimento e da evangelização. (…) Que os nossos sonhos se concretizem.

Fonte: Dom João Justino de Medeiros Silva, Arcebispo de Montes Claros (MG) em https://www.cnbb.org.br/um-convite-para-sonhar-juntos/