Na liturgia deste domingo dia 14/2/2021 estamos refletindo sobre o início do ministério público de Jesus. A sua pregação vem acompanhada da cura de numerosos doentes, revelando que Deus quer para o homem a vida, a vida em plenitude. O texto do domingo passado (7/2) registrava que Jesus se aproximou da sogra de Simão, que estava de cama com febre, “segurou a sua mão e ajudou-a a levantar-se”. Na continuação, o texto deste domingo (Marcos 1,40-45) um leproso de aproxima de Jesus e começa entre eles um diálogo que termina com uma ação. De joelhos, o doente de hanseníase, faz um pedido: “Se queres tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, disse: “Eu quero: fica curado!” Mas faz um gesto mais ousado: “estendeu a mão, tocou nele, e disse: fica curado!” Tocou em alguém que era expressamente proibido de tocar.
O livro do Levítico (13,1-2.44-46) tinha a seguinte norma para os leprosos: “Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”. Antes de pandemia da Covid-19, esta rigorosa norma sanitária em relação aos doentes de hanseníase era mais difícil de entender e aceitar. O isolamento era a única forma segura de impedir a transmissão da doença. Hoje a norma para evitar a transmissão do coronavírus é a mesma.
A necessária medida sanitária do isolamento dos leprosos se tornou mais grave, dura e injusta quando eles foram tratados como “impuros”. Impureza é um julgamento moral, feito a partir de uma doença contraída contra a vontade. A lepra constituía uma espécie de morte religiosa e civil. “O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!” (Lv 13,44). Era uma norma para garantir que ninguém se aproximasse e muito menos tocasse. Também se tornou uma barreira para qualquer diálogo.
(…) Vivemos numa sociedade plural: uma multiplicidade de organizações com suas causas próprias, etnias, religiões, visões políticas, educativas, sanitárias muito variadas, etc. Numa pandemia, o isolamento e o distanciamento social são necessários para promover e defender a vida. Porém, existem distanciamentos e até isolamentos que impedem qualquer comunicação, muito menos diálogo, entre alguns dos múltiplos agrupamentos da sociedade. Usando a linguagem do texto bíblico, uma parte pode ver a outra como “impura” e vice-versa.
Em poucos dias, com a Quarta-feira de Cinzas se inicia a quaresma e com ela a Campanha da Fraternidade Ecumênica. Assim como Jesus fez com o leproso, dialogou com ele – ouvindo seu grito de dor por ser portador de doença incurável e sentenciado como impuro – “cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele”, a quaresma é um convite para olhar humildemente para os pecados e confessá-los. E o pecado que a Campanha da Fraternidade nos convida a reconhecer é a falta de diálogo, em todas as esferas, desde a familiar, passando pela social, política, cultural, religiosa, ecumênica.
Fonte: Dom Rodolfo Luís Weber, Arcebispo de Passo Fundo (RS) em https://www.cnbb.org.br/estendeu-a-mao-e-tocou-nele/
O leproso representa a humanidade inteira, vivendo nas sombras da morte, mas que é definitivamente redimida. Como o rei Davi, digamos: “Lava-me, Senhor, e ficarei limpo!” (Frei Aldo Colombo em Viver a Palavra 2021, Ed. Paulinas)