
PROPOSTA
Uma experiência de oração e discernimento na vida cotidiana.
O que é o Retiro Quaresmal?
Uma proposta simples de oração no dia-a-dia, buscando Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus. O roteiro oferece uma forma especial de fazer o retiro em casa, no tempo da Quaresma, visando uma boa preparação para a Páscoa do Senhor. Poderia também ser adaptado para outro tempo do Ano Litúrgico. Trata-se, realmente, de fazer na própria casa, ou em outro lugar (trabalho, comunidade, etc), um retiro que, normalmente, se faria em uma casa de retiros. Tem alguma semelhança com os chamados Exercícios na Vida Cotidiana – EVC – baseados nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola.
E a cada ano a Igreja do Brasil nos propõe um tema a ser trabalhado, aprofundado durante o ano todo, de modo especial, durante a quaresma. E neste ano a Campanha da Fraternidade 2022 traz como lema: “Fraternidade e Educação”; “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26) –, a refletir sobre a indispensável relação entre fraternidade e educação, nos recordando que educar não é um ato isolado, mas, sim, o encontro no qual todos são educadores e educandos. Este texto da Campanha da Fraternidade nos inspira na missão educacional de cada pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade.
Fundamentalmente, o Retiro Quaresmal é um caminho de oração, feito no dia-a-dia, por um determinado tempo, baseando-se em exercícios de oração, sugeridos e elaborados neste folheto que ora apresentamos.
Elementos básicos para fazer este Retiro Quaresmal (RQ) são:
- Dedicar trinta (30) minutos à oração pessoal diária; rever esta oração durante alguns minutos;
- Participar do encontro semanal de partilha da oração, orientações e entrega do material da semana.
Como organizar-se para o Retiro Quaresmal?
O “coração” do Retiro Quaresmal é a dedicação de, pelo menos, trinta (30) minutos diários, para os exercícios sugeridos. É importante encontrar um tempo propício para estes exercícios diários de oração. Isso pede muita fidelidade. Aprendemos dos mestres de oração como é importante dar um tempo certo para a oração pessoal diária. Todos nós, hoje em dia, temos muito o que fazer. Depende de nós organizarmo-nos e convencermo- nos de que o tempo é a condição fundamental para a oração acontecer. Assim escreve São Francisco de Sales: “É muito importante dar atenção a Deus, durante meia hora diária; mas quando os afazeres são muitos, então é necessário destinar uma hora inteira para a oração pessoal”.
O melhor tempo para a oração diária é aquele em que estou mais descansado, menos disperso e agitado pelas preocupações do dia. Bom seria que fosse sempre à mesma hora. Se isto não for possível, faz-se um plano semanal. Deveríamos mesmo agendar este tempo. Terminado o tempo da oração pessoal, sou convidado a usar mais algum tempo para rever como foi a oração, perguntando a mim mesmo: Saí-me bem? Por quê? Tive dificuldades, resistências? Recomenda-se ter uma espécie de diário espiritual onde se anota aquilo que aconteceu de importante e significativo durante a oração.
Roteiro para a oração diária
Esquema, como possível ajuda, para os trinta (30) minutos de oração diária.
- Escolher a hora e o lugar mais apropriados para a oração.
- Acolher a presença de Deus, saber que Ele me quer junto de si.
- Pedir a luz do Espírito Santo para que Ele me dirija e inspire.
- No início de sua oração pessoal, faça a oração preparatória, invocando o Espírito Santo.
- Dois modos de orar os textos indicados:
1 – CONTEMPLAÇÃO EVANGELICA (se o texto for um fato bíblico ou um mistério da vida de Cristo) Como proceder?
- Recordo a história e use a imaginação para entrar na cena evangélica.
- Procuro ver, contemplando cada pessoa da cena; dou um olhar demorado, sobretudo, na pessoa de Jesus (se for o caso). Olho sem querer explicar ou entender.
- Tento ouvir, prestando atenção às palavras ditas ou implícitas: o que podem significar? E, se fossem dirigidas a mim…?
- Observo o que fazem as pessoas da cena. Elas tem nome, história, sofrimentos, buscas, alegrias. Como reagem? Percebo os gestos, os sentimentos e atitudes, sobretudo, de Jesus.
- Participo ativamente da cena, deixando-me envolver por ela. Além de ver, ouvir, tente apalpar e sentir o sabor das coisas que nela aparecem.
- E, refletindo, tiro proveito de tudo o que ocorreu durante a oração.
- Finalizo com uma despedida íntima de meu Deus, rezando um Pai Nosso. Saindo da oração, faço a minha revisão.
2 – LEITURA ORANTE (se for um texto de ensinamento da Escritura)
- Leio o texto inteiro de uma vez; releio, devagar, versículo por versículo. Pergunto-me: O que diz o texto em si?
- Paro onde Deus me fala interiormente; não tenho pressa, aprendo a saborear. Pergunto- me: O que o texto diz para mim?
- Deus é Pai que nos ama muito mais do que poderíamos ser amados. Pergunto-me: O que o texto me faz dizer a Deus? Podem ser louvores, pedidos, ação de graças, adoração, silêncio…
- Vou acolhendo o que vier à mente, o que tocar o meu coração: desejos, luzes, apelos, lembranças, inspirações.
- Pergunto-me: O que o texto e tudo o que aconteceu nesta oração me fazem saborear e viver? • Finalizo a oração com uma despedida amorosa. Rezo um Pai-Nosso e uma Ave- Maria.
- Saindo da oração, faço a minha revisão.
Revisão da Oração
Terminada a oração, revejo brevemente como me saí nela, perguntando-me:
- que Palavra de Deus mais me tocou?
- que sentimento predominou?
- senti algum apelo, desejo, inspiração?
- tive alguma dificuldade ou resistência?
Anoto o que me pareceu mais significativo na forma de uma breve oração de súplica ou de agradecimento.
N.B.: Este roteiro pode ser utilizado para a partilha da oração em grupo.
O esquema do RQ
Cada uma das seis semanas do Retiro Quaresmal contém seis exercícios de oração. O sétimo dia da semana destina-se para o que chamamos de repetição. Trata-se de escolher o exercício da semana que mais me tocou ou que foi mais difícil para mim. A repetição tem um papel muito importante nos Exercícios Espirituais. Não raras vezes acontece que somente durante a repetição se consegue uma experiência de oração mais profunda.
Tratando-se de Retiro Quaresmal, os exercícios começam na Quarta-feira de Cinzas, com uma semana introdutória e deseja convidá-lo a entrar conscientemente no caminho de oração dos Exercícios na Vida Diária e a dispor-se a uma atitude orante.
Acompanhamento no RQ
Além das orientações dadas, seria desejável um acompanhamento mais direto. Há duas possibilidades:
- Recomenda-se às pessoas que desejam fazer o retiro, formarem grupos por proximidade geográfica ou afetiva, sejam grupos já existentes na paróquia, sejam grupos a se constituírem. O objetivo é reunir-se, semanalmente de preferência, para a partilha das experiências.
- Tanto quanto possível, os grupos sejam acompanhados por um orientador experiente nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, auxiliado por outros acompanhantes idôneos que se disponham a prestar este serviço pastoral.
Primeira semana – De 06 a 12/03
“CHEIO DO ESPÍRITO SANTO, VOLTOU JESUS DO JORDÃ O E FOI LEVADO PELO ESPÍRITO AO DESERTO…”

1º Domingo – Dia 06.03
Lc 4, 1-13: Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra de Deus.
As tentações de Jesus. Estamos vivenciando o tempo litúrgico da Quaresma. São quarenta dias de intensa preparação de nosso coração e de nossa vida para celebrarmos a grande festa da cristandade, a maior de todas as boas novas: a Santa Páscoa, a Ressurreição de Jesus.
A liturgia neste tempo da Quaresma nos convida ao jejum, não somente para cumprir uma lei, mas como uma forma de nos tornarmos solidários com aquelas pessoas que passam fome, não têm o alimento necessário para o sustento de seu corpo. É tempo de mortificação, de renúncia, de sacrifício. É tempo de conversão, mudança de mentalidade, de oração.
O evangelho de hoje é o da tentação de Jesus. Suas tentações se resumiam na insidiosa tendência de ser infiel à missão que o Pai lhe confiara.
A cena da tentação de Jesus foi construída para refletir a luta interior do homem pela liberdade. Jesus, o novo Adão, é tentado, como todo ser humano, a acomodar- se aos princípios deste mundo, a seus valores materiais, à segurança que nos proporciona o dinheiro, à satisfação que nos dá o poder, descuidando dos valores do Reino, que são a verdade, a justiça, o amor e a paz.
A tentação é uma espécie de prova essencialmente unida à nossa condição humana. Quando o ser humano resiste à tentação ela se transforma em oportunidade para a personalização e o merecimento.
Segunda-feira – Dia 07.03
Mt 25, 31-46: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
É a conclusão do discurso escatológico, e o último ensinamento de Jesus, no evangelho de Mateus. Esta grande cena de juízo nos obriga a conferir, a cada momento, nossa vida, em vista do encontro com Cristo, que agora se apresenta a nós.
A vinda de Jesus no final dos tempos será, antes de tudo, um ato de discernimento, no qual aparecerão as consequências do comportamento existente enquanto se esperava a vinda do Senhor.
O cristão é chamado a seguir e imitar Jesus. Todos nós somos convocados a ter o mesmo sentimento que Cristo teve. O cristão é alguém apaixonado pela verdade. Aquele que ama a verdade reconhece seus irmãos sem dar maior importância às etiquetas: as pessoas são as que existem e as que vivem para Deus.
Terça-feira – Dia 08.03
Mt 6, 7-15: Venha a nós o vosso Reino.
Quando rezamos, a primeira atitude é acolher a inspiração. Em segundo lugar, precisamos de silêncio para ouvir o Espírito Santo. Às vezes, é necessário repetir muitas vezes uma mesma palavra, detendo-nos longamente nela. Cristo passou uma noite repetindo um mesmo pedido ao Pai: Que não se faça a minha vontade, mas a sua.
A primeira expressão da oração que Jesus nos ensinou foi o núcleo de sua mensagem: Deus é nosso Pai. Através da oração do Pai-Nosso, Jesus nos ensinou também a apresentar nossos pedidos: pela glorificação de seu nome, pelo seu reino, para que se realize a sua vontade e seu amor.
Assim devemos rezar o Pai-Nosso, mas não repeti-lo mecanicamente. Esta oração tem dois movimentos: um de ação de graças e outro de crescimento espiritual.
Quarta-feira – Dia 09.03
Lc 11, 29-32: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não lhe será dado…
Jesus é um homem livre. Do início de sua vida pública até a morte na cruz. Ele é livre para servir e para ensinar a servir. Ele convida o ser humano a se libertar de todos os entraves para se pôr a caminho do amor. Livre a ponto de doar a sua vida no Calvário, numa cruz, por cada um de nós.
Dá-nos, Senhor, coragem e discernimento para resistirmos às tentações do dia a dia, renovando nossa fé e confiança no Deus da Vida, que sempre nos ama e acompanha. Amém!
Por isso, Jesus, com toda sua liberdade, começa usando ásperas palavras. Ele se dirige ao povo que o ouve como a uma “perversa geração”. Mas, por que tanta dureza? Porque eles não estão abertos para reconhecer o tempo de sua conversão às pregações de Jesus.
Jesus é o sinal que é, ao mesmo tempo, um apelo à conversão, muito mais urgente que o apelo do profeta Jonas aos habitantes pagãos de Nínive.
Quinta-feira – Dia 10.03
Mt 7, 7-12: Pedi e vos será dado. Buscai e achareis.
Esta é a regra de ouro no agir: aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. É uma máxima da sabedoria humana, fruto do bom-senso. Jesus faz uma exortação à oração confiante ao Pai, desenvolvida em três atitudes: pedi, procurai, batei. Está junto com a garantia do atendimento: recebereis, encontrareis – a porta vos será aberta.
Por que, então, às vezes, acontece de a gente pedir alguma coisa a Deus e não recebê-la? Será que isso significa que a oração é ineficaz ou que as afirmações do Evangelho são puras invenções? Jesus não garante a eficácia da oração ”todos os casos”, mas apenas quando se pedem “boas coisas”, que nos tornam bons cristãos. E, acima de tudo, não devemos rezar só para resolver problemas da vida, mas principalmente para sermos bons “seguidores de Cristo”.
Sexta-feira – Dia 11.03
Mt 5,20-26: Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores…”.
Jesus está formando os primeiros discípulos para a nova comunidade. Ela tem como fundamento e motivação a prática do amor. Ora, o amor pede que se dê um passo além, um passo de qualidade: “Se a justiça de vocês não superar a justiça dos doutores da Lei e fariseus, vocês não entrarão no Reinos dos Céus”. Não basta não matar, é necessário evitar qualquer atitude que ofenda ou prejudique o próximo. Até mesmo a celebração litúrgica, por mais que satisfaça as exigências da religião se não for acompanhada de reconciliação fraterna, poderá transformar-se em belo espetáculo; culto agradável a Deus é que não será. E quem se apresentar diante do Juiz divino, sem ter perdoado, será condenado a pagar tudo, até o “último centavo”.
Sábado – Dia 12.03 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Segunda semana – De 13 a 19/03
“JESUS TOMOU CONSIGO PEDRO, TIAGO E JOÃ O, E SUBIU AO MONTE PARA ORAR…”

2º Domingo – Dia 13.03
Lc 9, 28b-36: Enquanto orava, transformou-se o seu rosto e as suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura.
A narrativa da transfiguração segue o esquema clássico das teofanias do Antigo Testamento. Os dois personagens mencionados, Moisés e Elias, são importantes para o AT, pois o primeiro representa a Lei (Moisés), e o segundo, os profetas (Elias). Com isso, Lucas quer dizer que Deus aprova, no seu desígnio de salvação, a paixão que Jesus enfrentará. Como novo Moisés, ele conduzirá seu povo à liberdade.
A conversa de Jesus com eles, embora o texto não diga sobre o que conversavam, mostra que não há ruptura entre o projeto de Jesus (NT) e o projeto de Deus (AT). A nuvem é símbolo da presença divina, como no Sinai, e a voz confirma a palavra de Jesus sobre sua paixão e ressurreição, antes dita aos discípulos.
A presença dos três discípulos quer nos revelar sua experiência antecipada da glorificação de Jesus, que, por sua vez, os encaminha rumo à maturidade da fé cristã.
Jesus é o homem verdadeiro, é o começo de uma nova humanidade, daquela que Deus planejara desde o primeiro instante da criação. Uma humanidade enraizada em Deus, que não faz do prazer, da presunção, do poder ou da riqueza os critérios do seu sucesso ou progresso, que não se ilude proclamando- se autossuficiente, mas que põe toda sua confiança naquele que a criou e a ama como Filho.
A transfiguração de Jesus nos revela essa capacidade prodigiosa e magnífica do corpo humano em poder tornar-se o rosto da Luz Eterna. Nosso corpo é o primeiro Evangelho, pois é através da expressão do nosso rosto, através da nossa abertura, da nossa benevolência e do nosso sorriso, que deve passar o testemunho da Presença Divina.
Graça a pedir: Dá-nos, Senhor, a graça de escolhermos sempre o bem, de nos transfigurar-nos no Cristo, iluminados e inspirados por Ele sempre mais. Amém!
Segunda-feira – Dia 14.03
Lc 6, 36-38: Sede misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso.
Parece-nos que o mandamento do Senhor “não julgueis” deve ser entendido quanto a julgamentos injustos ou a juízos precipitados, desprovidos de certezas. É comum no nosso dia a dia que necessitemos emitir juízos de valor. Como pais de família, como cidadãos e como cristãos batizados, condenamos, inconscientemente, recriminamos, certas posturas e outras. Portanto, o “não julgueis” não pode servir de álibi para aqueles que cometem injustiça. A admoestação do Senhor está muito mais ligada a maneira como fazemos, “a medida com que medimos”. Errôneo seria sermos duros com os outros e benévolos com os nossos próprios erros. Que o Senhor nos dê a sabedoria para não nos eximirmos de emitir juízos corretos, pautados pela misericórdia. incapazes de entender o caminho que Jesus lhes propõe.
Jesus acaba de anunciar a sua paixão (este é o terceiro anúncio, dos três relatados por Mateus, Marcos e Lucas), e seus discípulos só pensam em honrarias e cargos de destaque. Ainda não tinham compreendido que o reino anunciado por Jesus não segue os esquemas humanos. Diante do pedido dos filhos de Zebedeu, Jesus lhes mostra que o importante no Reino não é ter um lugar de honra, mas segui-lo em seu caminho de entrega e serviço.
Terça-feira – Dia 15.03
Mt 23, 1-12: “Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem.”
Estamos em plena preparação para a Páscoa de Jesus. Mas como vamos ressuscitar com ele sem conhecermos os vícios que estão matando a vida d’ele em nós? Devemos imitá-lo, tanto na alegria como no sofrimento. É o momento de olharmos para Jesus Crucificado e dizermos a Ele que, se morreu por nós, devemos também ter a coragem de “gastar” nossa vida por ele, fazendo o bem por onde passarmos, como fez entre nós. Devemos aprender a morrer com Jesus para os nossos pecados e a ressuscitar com ele para uma vida nova, ou seja, uma vida cheia de amor pelo Senhor e, por consequência, por aqueles que caminham conosco rumo ao Bom Deus. E em que devemos melhorar? Hoje, Jesus nos pede para tomarmos cuidado com o orgulho, que, mesmo em um ato maravilhoso como é a oração, pode surgir, desvirtuando-a. Por isso não devemos chamar a atenção dos outros para que vejam que estamos rezando. Basta que o nosso Pai, que tudo vê, saiba ouvir as nossas preces, que a ele sobem do nosso coração.
Quarta-feira – Dia 16.03
Mt 20, 17-28: Todo aquele que quiser tornar- se grande entre vós, se faça vosso servo…
Este episódio tem duas partes bem definidas: o pedido de um lugar de honra e, em seguida, a instrução de Jesus. O pedido dos lugares de honra deve ser lido no marco do último anúncio da paixão, que contrasta com a pretensão de Tiago e de João, e do anúncio da cura dos dois cegos que, de certo modo, representam esses dois discípulos, que são incapazes de entender o caminho que Jesus lhes propõe.
Jesus acaba de anunciar a sua paixão (este é o terceiro anúncio, dos três relatados por Mateus, Marcos e Lucas), e seus discípulos só pensam em honrarias e cargos de destaque. Ainda não tinham compreendido que o reino anunciado por Jesus não segue os esquemas humanos. Diante do pedido dos filhos de Zebedeu, Jesus lhes mostra que o importante no Reino não é ter um lugar de honra, mas segui-lo em seu caminho de entrega e serviço.
Quinta-feira – Dia 17.03
Lc 16, 19-31: Pai Abraão, compadece-te de mim…
Esta parábola do homem rico e do mendigo Lázaro propõe um apelo à conversão, ela nos faz refletir sobre alguns pontos importantes: a) o fato de que o homem pode se tornar incapaz de se abrir à proposta salvífica de Deus – é o caso do rico; b) o Evangelho não privilegia nem condena uma condição econômica – de pobreza ou de riqueza -, mas procura mostrar que a fé e a conversão devem amadurecer e tornar o mundo mais humano; c) a Palavra de Deus se revela nas Escrituras (Moisés e os Profetas); d) é na Revelação que conhecemos a vontade de Deus, e é nela que obtemos o critério que pode orientar nossa vida.
Se o homem rico tivesse sido gentil e fraterno, e tivesse ultrapassado seu egocentrismo para “descobrir” o “mundo” de Lázaro, teria se convertido a Deus e teria sido salvo.
Sexta-feira – Dia 18.03
Mt 21, 33-43.45-46: Será tirado de vós o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele…
No contexto desta parábola Jesus se defronta com duas instituições do povo de Israel: o templo e as autoridades judaicas, responsáveis por esse templo. A parábola é clara, pois o que conta diante de Deus não são aparências, nem boas intenções ou mesmo palavras, mas é a prática. Deus olha para o que fazemos.
Esta parábola traz todas as características de uma alegoria, pois cada um dos seus elementos tem uma significação: Deus é o proprietário, a vinha é Israel, os servos são os profetas, os administradores são os judeus infiéis, os outros vinhateiros são os pagãos, os pecadores, e o filho é Jesus.
Sábado – Dia 19.03 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Terceira semana – De 20 a 26/03
“UM HOMEM HAVIA PLANTADO UMA VIDEIRA NA SUA VINHA, E, INDO BUSCAR FRUTO, NÃO O ENCONTROU…”

3º Domingo – Dia 20.03
Lc 13, 1-9: “Senhor, deixa-a ainda este ano… caso contrário, mandarás cortá-la.”
Os Evangelhos de Mateus e Marcos falam de uma figueira que é símbolo de Israel; enquanto o evangelho de Lucas (o texto de hoje) diz ser a mesma árvore símbolo de todos os homens. O evangelista Lucas retrata Jesus como sendo paciente e impaciente ao mesmo tempo. Impaciente ao esperar nossa conversão, nossa mudança de coração e de vida. Paciente e compreensivo, por outro lado, porque sabe como esperar e como repetir, de vez em quando, seu chamado para que mudemos nossas vidas. Em suma, Jesus pede e compreende ao mesmo tempo. O tempo parece ser longo, tanto para nós como para a figueira estéril, mas no final do túnel há a certeza de que o fim virá e acontecerá o julgamento. É o mestre da síntese humana e cristã, tanto em suas palavras como em suas ações.
No caminho da vida, há acontecimentos trágicos. Mas não significa que suas vítimas são mais pecadoras que os outros. Ao contrário, são convites abertos para que se pense no imprevisível dos fatos e na urgência da conversão, e para que se construa a nova história. Jesus utiliza no contexto da época em que esteve entre nós. Uma desgraça não é sinal de castigo divino para os que são atingidos por ela, mas um apelo à conversão para os sobreviventes. Somos todos pecadores e Deus espera frutos de nossa vida. Concluindo, devemos afirmar que Deus tem uma imensa paciência com cada um de nós, e espera a conversão de cada filho seu. Assim sendo, cabe-nos a pergunta: “eu tenho paciência com os que me são difíceis?”
Graça a pedir: Dá-nos, Senhor, a graça da conversão, para que tenhamos mais paciência com a gente mesmo e com os outros, nossos(as) irmãos(as).
Segunda-feira – Dia 21.03
Lc 4, 24-30: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria.”
Jesus, logo no início da sua missão, visitou seus patrícios da aldeia de Nazaré, onde ele viveu cerca de trinta anos, e foi por eles rejeitado. Na narração feita por São Mateus, lê-se: Todos diziam admirados: “Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa? Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós? Donde lhe vem tudo isso?” (Mt 3, 54-56). Infelizmente, os judeus tinham como certo que o Messias, quando viesse à terra, seria um rei forte, cheio de poder, que marcharia à frente de um poderoso exército. Assim, também tinham a ideia de que ele teria uma corte, com seus ministros à frente com toda a pompa, revestidos de preciosos trajes, com vistosos e luxuosos tecidos… Ora, Jesus não se apresentou desse modo, mas como aquele que veio trazer alegria, presença, proximidade, convivência, humanismo, conforme ele leu a seu próprio respeito no Livro de Isaías (61, 1ss). Mais tarde, o Messias ensinar-nos-ia que ele está onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome: Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles (Mt 18, 20).
Terça-feira – Dia 22.03
Mt 18, 21-35: “Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim?”
Este capítulo, que é um discurso de Jesus, tem como temática geral a eclesiologia, ou seja, a comunidade (Igreja). Aqui o autor é bastante realista sobre a comunidade cristã, pois aborda a temática da fraqueza humana.
A grande pergunta que se faz é: “quantas vezes devo perdoar?” A mesma pergunta é feita a Jesus, e ele a responde em dois momentos:
a) Jesus retoma o canto de vingança de Lamec (Gn 4, 24). O perdão não tem limites. O perdão não deve ser medido pela quantidade de vezes… Só o perdão pode salvar a vida da comunidade que se comprometeu com a justiça; e
b) Jesus exemplifica isso na parábola lida por nós no evangelho de hoje. A exigência do perdão se dá na medida em que cada um perdoa de coração o seu irmão. Esse tempo litúrgico da Quaresma é um tempo de conversão.
Quarta-feira – Dia 23.03
Mt 5, 17-19: “Não vim para abolir a Lei ou os Profetas, mas para levá-los à perfeição.”
Esta é a plenitude que devemos trilhar para conseguir superar o legalismo e os formalismo da lei antiga, que era imposta pelos doutores da lei e pelos escribas.
A expressão Eu, porém, lhes digo, vem interiorizar a lei que será escrita não em tábuas de pedra, mas no coração dos homens. Desse modo, a nova lei discernirá o mal pela sua raiz, no coração, e não apenas quando se manifesta.
Conforme a doutrina dos fariseus, o homem deve praticar as boas obras para tornar-se justo diante de Deus e, dessa forma, alcançar a salvação. Embora a lei tenha saído na casuística e na artimanha dos detalhes imprescindíveis, Jesus propõe uma vivência da lei a partir do coração em sua plenitude. Os ensinamentos da lei e dos profetas não devem estar contidos numa longa lista de preceitos, mas assumidos a partir do coração, como expressão da vontade de Deus.
Quinta-feira – Dia 24.03
Lc 11, 14-23: “Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios cairão uns sobre os outros.”
Estar com Jesus significa render-se ao ideal de justiça, paz e fraternidade. Quem não colabora com essa tarefa coloca obstáculo à missão. Jesus, ao expulsar o demônio, mostra que a libertação dos endemoninhados é o sinal messiânico, por excelência, da chegada do Reino de Deus.
Para alguns, a expulsão dos demônios é sinal suficiente para reconhecer Jesus e seu futuro Reino. Para outros, o mesmo sinal tem um efeito contrário: eles não creem, e chegam a acusar o Mestre de estar possuído pelo demônio.
Às vezes, um mesmo testemunho pode aproximar ou distanciar alguém da fé, dependendo da atitude de seu coração. O poder de Jesus contra os demônios vem de Deus, é sinal da sua presença; presença que procura criar novas relações entre os homens, construindo assim a nova sociedade.
Sexta-feira – Dia 25.03
Lc 1, 26-38: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra.”
Não há outro dia na Liturgia que possa ser comparado ao anúncio celebrado hoje. Alguém poderia indagar: “E a Páscoa?”. Sim, é verdade, a Páscoa é a nossa certeza da ressurreição. Mas, para quem acreditou até o fim na Anunciação do anjo, a Páscoa seria uma consequência lógica: não seria possível que a morte prendesse para sempre o Filho de Deus. Ao tomarmos a sério e com profundidade o anúncio do anjo, descobrimos que nada pode nos afastar de Deus. Ele veio morar conosco, “armou sua tenda entre nós”. Desde que o anjo nos anunciou a vinda do “Emanuel”, tudo mais é uma espera confiante. Quem crê que Deus está presente sabe que a morte “não terá a ultima palavra”. Nós cremos e confiamos que o Menino Deus está conosco e que nem a morte, nem a vida nos poderão separar o seu amor.
Sábado – Dia 26.03 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Quarta semana – De 27/03 a 02/04
“MEU PAI, PEQUEI CONTRA O CÉ U E CONTRA TI; JÁ NÃ O SOU DIGNO DE SER CHAMADO TEU FILHO…”

4º Domingo – Dia 27.03
Lc 15, 1-3.11-32: “Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro…”
Este capítulo é o coração do evangelho de Lucas, apresenta três parábolas sobre o tema da procura e do encontro do que estava perdido. Em outras palavras, é o capítulo da misericórdia, temática muito presente neste evangelho.
A história fala da fragilidade, da miséria e do pecado do ser humano. Fala também do infinito e misericordioso Amor de Deus. Jesus mostra que Deus está do lado do pecador, pois ele veio buscar o que estava perdido.
Jesus, ao falar da alegria de Deus em encontrar o que estava perdido, convida os “justos” – indignados por sua acolhida aos pecadores –, a mudarem de atitude e fazerem parte da dinâmica da bondade de Deus, revelada em Jesus.
Os primeiros versículos apresentam o motivo por que Jesus conta as parábolas da misericórdia.
As três parábolas apresentam a mesma temática: a) o perdido que é encontrado – a ovelha, a moeda, o filho mais jovem que volta para casa; e b) o tema da alegria por parte do pastor, da dona de casa e do pai que festeja o retorno do filho.
A parábola do filho pródigo, melhor dizer do Pai misericordioso, apresenta quatro cenas bem vivas: a) o pai, o filho mais jovem e o pedido da herança; b) as dificuldades pelas quais passa o filho mais novo ao viver humilhantemente na condição de servo, disputando um prato de comida com os porcos. Com isso reconhece seu pecado e volta arrependido; c) a atitude do pai, que perdoa o filho mais jovem e vai ao encontro dos dois filhos – um deles muda de vida e é justificado, o outro fecha-se em sua soberba e egoísmo; e d) o filho mais velho considera-se perfeito. A partilha leva-nos a amar a Deus e ao irmão necessitado. O tempo da quaresma nos conclama a vermos o Cristo Senhor no irmão carente.
Graça a pedir: Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Dá-nos, Senhor, a graça de reconciliar-me comigo e com meu irmão para viver plenamente na graça de Deus.
Segunda-feira – Dia 28.03
Jo 4, 43-54: “Teu filho está passando bem… E creu tanto ele como toda a sua casa.”
O centro desta narrativa consiste nos verbos “crer” e “viver”. O ser humano está sempre à procura da fé. O ser humano vai à busca da fé. O relato de hoje mostra-nos que a confiança total em Jesus faz milagres.
Observa-se neste relato um progresso na fé por parte do pai de um enfermo. Ter fé significa aceitar Jesus com todos os riscos que isso possa acarretar. Há ainda outra característica: a fé nos abre para o diálogo e nos dá a certeza de que Deus está no meio de nós, construindo conosco a história de nossas vidas.
O oficial crê na Palavra de Jesus; sua fé é confirmada pelo milagre anunciado a ele pelos servos que lhe vêm ao encontro. A fé desse oficial passa por toda a família. A partilha leva-nos a amar a Deus e ao irmão necessitado. O tempo da quaresma nos conclama a vermos o Cristo Senhor no irmão carente.
Terça-feira – Dia 29.03
Jo 5, 1-16: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.”
A libertação de Jesus consiste numa total renovação de nosso ser à imagem de Deus. Pressupõe a expulsão de todo o nosso egoísmo. É por essa razão que Deus não fica satisfeito apenas com a libertação do paralítico de sua escravidão humana. Essa libertação, importante em si mesma, é somente parte de uma salvação maior. Encontrando-o mais tarde no templo, Jesus o chama para uma conversão dos pecados, a fim de que sua libertação possa ser autêntica.
Muitas vezes a severa interpretação de costumes e leis nos faz perder a oportunidade de ficarmos livres dos males que nos afetam. Em todos os milagres de cura, o necessitado vai até Jesus, por si ou por meio de outros, para pedir a sua ajuda. Agora é Jesus quem vai até o enfermo. A atitude de Jesus manifesta sua constante iniciativa de salvar o que estava perdido. Para Deus sempre há libertação.
Quarta-feira – Dia 30.03
Jo 5, 17-30: “Assim também o Pai não julga ninguém, mas entregou todo o julgamento ao Filho…”
Jesus começa a rebater as acusações sofridas por parte dos judeus. Eles procuravam matá-lo, pois além de violar o sábado, chamava a Deus de Pai, fazendo-se assim igual a Ele. Eis a grande tese: meu Pai continua agindo até agora, e eu também vou agindo. O Filho faz o que quer o Pai, e o faz com ele e para ele. Essa identidade de ação fundamenta-se no amor que o Pai tem para com o Filho, que comunica todas as suas intenções e planos de ação.
Desta unidade de ação, são desenvolvidos três temas: a) a dependência que tem Jesus do Pai; b) a igualdade de Jesus ao Pai; e c) a temática da escatologia, presente e futura. A nossa vida é assim: se deixarmos Deus agir, ficaremos admirados das novidades em nosso mundo. Ao chamar Deus de Pai, Jesus revela estar unido a Ele, realidade que também é nossa.
Quinta-feira – Dia 31.03
Jo 5, 31-47: “Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.”
O texto do Evangelho que acabamos de ler nos apresenta as testemunhas em favor de Cristo. É a segunda parte da resposta de Jesus diante da polêmica suscitada pela cura no dia de sábado. Diante do decreto da morte de Jesus pelas autoridades judaicas, aparecem as testemunhas que depõem em favor de Jesus. São elas: a) João Batista: esta é uma das características deste personagem no evangelho de São João – ser testemunha e de Jesus; b) o Pai: a prática de Jesus revela quem é Deus e, ao mesmo tempo, quem é Jesus. A sua Palavra não permanece em vós, porque não acreditais naquele que Ele enviou; e c) a Escritura.
Portanto, essas são as três testemunhas em favor de Jesus recusadas pelas autoridades religiosas judaicas – que fazem da religião o substrato para manter seus privilégios. Na base da incredulidade dos judeus estão o egoísmo e a vanglória.
Sexta-feira – Dia 01.04
Jo 7, 1-2.10.25-30: “Entretanto não vim de mim mesmo, mas é verdadeiro aquele que me enviou e vós não o conheceis.”
O contexto da narrativa de hoje são as controvérsias sobre a origem de Jesus, sobre a sua messianidade – que é o tema central de todo este capítulo do Evangelho. A grande interrogação é saber de onde vem Jesus. Segundo a concepção popular, o Messias deveria vir de uma origem misteriosa. E a resposta de Jesus é: vim do Pai, que me enviou. Este relato procura eliminar outra dificuldade para aceitar as pretensões de Jesus: sua origem humana. Isso não deveria ser outro obstáculo para a fé, já que nos lábios de Jesus sua origem humana é o que menos importa. Ele veio de Deus e tem nele a sua verdadeira origem. Ele veio de Deus e voltará para Deus. Essa afirmação divide os judeus: uns se inflamam no ódio a Jesus para eliminá-lo, e outros o aceitam.
Sábado – Dia 02.04 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Quinta semana – De 03 a 09/04
“NEM EU TE CONDENO. VAI E NÃO TORNES A PECAR.”

5º Domingo – Dia 03.04
Jo 8, 1-11: “Mulher, onde estão os que acusavam? Ninguém te condenou?”
Neste relato Jesus mostra que a comunidade é lugar de perdão, de misericórdia e não de julgamento e condenação. Segundo a lei judaica, a mulher adúltera deveria ser condenada à morte. Jesus está sempre junto do pecador: sabe compreendê-lo e amá-lo. Jesus descobre, no meio da miséria moral, a capacidade de crer e amar, talvez abafada pela mediocridade daqueles que condenam a mulher, projetando sobre ela seu próprio pecado. Para Jesus, como para todo cristão, sempre há possibilidade de perdão, de conversão, pois Ele veio para salvar, não para condenar.
Devemos entender que não basta ser observante da lei para ser justo perante Deus. Muitas vezes, habituados com nossa situação de cristãos, não percebemos a necessidade de rever nossas posições e descobrir a novidade revelada por Jesus. A falsidade, a malícia e a superficialidade de nossas vidas fazem que nos ocultemos sob máscaras de bondade, marginalizando aqueles que classificamos como indignos de conviver conosco.
A impressão de que somos melhores desencadeia uma falsa ideia de nós mesmos e o consequente desprezo dos preferidos de Deus. Lançar pedra nos outros é cômodo: pode dar a sensação de que nada temos a justificar. No final da narrativa, inicia-se o diálogo entre Jesus e a mulher. Não é um diálogo de acusação, mas uma oferta de vida: Eu também não te condeno. Pode ir e não peques mais. É evidente que Jesus não aprovou o pecado, mas demonstrou que não destrói o mal eliminando quem o cometeu. Jesus veio salvar os pecadores e não condená-los. Ele rompe os moldes estabelecidos pelo puritanismo da época, deixa que a mulher saia livremente, concedendo-lhe a vida e não olhar para o outro com sentimento de posse. Que Ele nos ensine o amor que deixa livre, e só por isso é amor.
Graça a pedir: Dá-nos, Senhor, a graça de reconhecer nossas fraquezas e ajudar na construção do reino com nosso testemunho de amor.
Segunda-feira – Dia 04.04
Jo 8, 12-20: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz do mundo.”
Jesus disse aos fariseus o motivo de não o aceitarem: Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém (v.15). Pode ser isto também que esteja dificultando o reconhecimento da face de Nosso Senhor, por nossa parte, nas pessoas que Ele nos manda todos os dias. Infelizmente, muitas vezes nós julgamos as pessoas somente pelo aspecto externo com que se apresentam – bem vestidas, falando bem; ou, intimamente, ficamos com “um pé atrás” com pessoas mal vestidas, que não sabem se expressar bem. São Tiago nos pergunta, descrevendo imagens parecidas, e conclui: Não é verdade que fazeis distinção entre vós e que sois juízes de pensamentos iníquos? (Tg 2, 2-4). Eu não julgo ninguém, disse Jesus!
Terça-feira – Dia 05.04
Jo 8, 21-30: “Eu tenho muitas coisas a dizer e julgar a respeito de vocês.”
À medida que se aproxima a paixão de Jesus, seu drama torna-se mais agudo. O diálogo entre Jesus e os fariseus é truncado. Não flui, porque os fariseus não se abrem à verdade, não têm disposição para acolher Jesus, o enviado do Pai. Permanecem surdos ao ensinamento dele, impenetráveis à proposta de vida nova. Instalam-se nas trevas do pecado, porque se recusam aceitar a luz divina. O drama de Jesus terminará na cruz, quando se revelará sua divindade com toda a força: “Quando levantarem o Filho do Homem, saberão quem eu sou”. Mesmo encontrando muitos corações de pedra, não é inútil o discurso de Jesus, que insiste em reafirmar sua total sintonia com o Pai. Não foram palavras jogadas ao vento, já que muitos acreditaram nele.
Quarta-feira – Dia 06.04
Jo 8, 31-42: “Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo.”
O desejo de ser livre está no íntimo de cada ser humano. O encontro e a aceitação da Verdade tornam a pessoa livre. Jesus apresenta-se como a Verdade que devolverá a cada um de nós a possibilidade de ser livre, que é condição dos filhos de Deus.
A afirmação fundamental do texto é: faz-se necessária a passagem de uma fé inicial entusiasmada, que aceita Jesus como Messias, profeta, a uma autêntica e adequada confissão da fé cristã, que reconhece Jesus como Filho de Deus. Isso se expressa nos lábios de Jesus quando afirma a necessidade de permanecer em suas palavras, de chegar a descobrir a verdade completa para chegar à liberdade, onde está a verdade pura. A adesão a Jesus não é feita somente de palavras. Ela exige prática, que pressupõe uma ruptura com o que não está a serviço da vida. É isso que as autoridades religiosas não admitem.
Quinta-feira – Dia 07.04
Jo 8, 51-59: “Se alguém guardar a minha palavra, não verá jamais a morte.”
Jesus é acusado de idólatra, blasfemo e de estar possuído pelo demônio. A resposta consiste na revelação que se centraliza no aspecto da vida. Jesus recebeu do Pai o poder de dar a vida. Aceitá-lo é aderir à vida, superar a morte. Os judeus, uma vez mais, não compreendem, e entendem a vida física, pois o que Jesus está afirmando é a sua superioridade sobre Abraão e os profetas. A reação dos judeus supõe a convicção de que ninguém poderia ser superior a Abraão e aos profetas.
Os judeus conhecem o Deus do Antigo Testamento. Ignoram, não conhecem o Deus revelado em Jesus, assim como sua última palavra dirigida aos homens. No final do texto há um desfecho no qual os judeus entendem estar Jesus se proclamando em igualdade a Deus, e pretendem punir essa blasfêmia como manda a Lei.
Sexta-feira – Dia 08.04
Jo 10, 31-42: “Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me apedrejais?”
O texto de hoje apresenta dois grupos com duas atitudes diferentes diante de Jesus: os que creem e os que não creem. Aqueles que não acreditam em Jesus, além de não crerem, tentam lapidá-lo, porque ele teria blasfemado ao declarar-se Filho de Deus. Diante dessa atitude, Jesus responde com dois argumentos: o primeiro citando a Escritura, mais concretamente o Salmo 82; e o segundo, pedindo que acreditem ao menos nas obras – só assim compreenderão a mútua imanência entre Ele e o Pai, e deduzirão, com certeza, a igualdade com o Pai.
O mistério de Cristo não pode ser interpretado pelos parâmetros estreitos de nossa mentalidade, condicionada pelas diversas limitações de nossa realidade humana. É pela fé, pela atitude de diálogo e de busca, que se pode obter o encontro com Cristo.
Sábado – Dia 09.04 – Repetição
A oração de cada sábado consiste no exercício chamado de repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: Não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente [EE 2]. Por isso não é apresentada uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração, a partir do texto ou moção que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou.
Semana Santa – De 10 a 17/04
“MEU DEUS, MEU DEUS, POR QUE ME ABANDONASTES?”

Domingo de Ramos e Paixão do Senhor – Dia 10.04
Lc 22, 14-23, 56: “Orai para que não caiais em tentação.”
As leituras deste domingo são todas voltadas para a contemplação dos sofrimentos de Nosso Salvador e contêm lições para nós. Na primeira, o profeta Isaías nos fala do Servo Sofredor, que, confiante nas palavras de Deus, aceita o sofrimento: não relutou, não se esquivou dos que o feriam, nem desviou o rosto dos escarros ou daqueles que lhe arrancavam a barba (cf. vv. 5-6).
A semelhança com o que Jesus sofreu após ter sido condenado é tão grande que se passou a ver no Servo do Senhor uma profecia do que Jesus sofreria por amor a nós (cf. Mt 27,27-31). A segunda leitura nos dá uma lição de humildade. Na comunidade de Filipos, havia irmãos querendo ser mais do que os outros. São Paulo, então, ensina-lhes que Jesus nunca deixou de ser Deus quando se encarnou no seio puríssimo da Virgem Maria; sua divindade apenas ficou oculta em seu corpo, semelhante ao nosso. Sua humildade o levou a aceitar ser morto da maneira mais cruel que havia: crucificado, suplício reservado somente aos piores malfeitores.
A segunda parte do texto comemora a máxima vitória de Cristo: ser ressuscitado por seu Pai Celeste. Esse exemplo de Jesus deve servir-nos de meditação neste início da Semana Santa, pois, às vezes, esquecemo-nos de que somos todos iguais. No Evangelho de São Lucas, é proposta a nós a narrativa dos sofrimentos e da morte de Jesus. Os quatro Evangelistas — São Mateus, São Marcos, São Lucas e São João — narraram os sofrimentos e a morte de Jesus, acentuando pormenores que servissem de lição para os cristãos de cada comunidade à qual estavam se dirigindo.
Assim, o de São Lucas destacou alguns detalhes que serviriam de proveito espiritual para superar uma dificuldade da comunidade: o uso da violência. Os apóstolos, presenciando a prisão de Jesus, acharam que deveriam reagir e perguntaram ao Mestre: Senhor, devemos atacá-los à espada?; e até um deles cortou a orelha de um servo do príncipe dos sacerdotes.
Mas Jesus interveio, dizendo-lhes: Deixai, basta; e, tocando a orelha daquele homem, curou- o (vv. 47-51). Com esse gesto e suas palavras, o Mestre lhes quis ensinar, e a nós, que a violência não se resolve pela violência, mas pelo diálogo.
Graça a pedir: Senhor, dai-nos a graça de vivermos intensamente esta semana santa e crescer no conhecimento interno do Senhor para mais amá-lo e seguí-lo.”
Segunda-feira – Dia 11.04
Jo 12, 1-11: “Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura.”
Desejosos de bem nos prepararmos para a Ressurreição de Jesus e também para ressuscitarmos com ele para sua graça, meditemos sobre as lições deste Evangelho. Maria de Betânia, irmã de Lázaro, agradece a Jesus por ter dado a ela nova vida, e o faz com generosidade, pois tudo o que dermos para o Senhor nunca será demais.
Entretanto, longe de ficar feliz com o gesto tão tocante da irmã de Lázaro, de ungir os pés de Jesus com bálsamo, Judas Iscariotes a censura, e mente, justificando que o valor gasto com aquele bálsamo poderia ser usado para ajudar os pobres. Parece boa sugestão, mas, na verdade, com aquela hipócrita compaixão, ele queria encobrir os seus roubos da bolsa comum. Da mesma forma, os príncipes dos sacerdotes queriam matar Lázaro (aquele a quem Jesus havia ressuscitado) para encobrir a inveja que sentiam pelo sucesso do Mestre perante a multidão. É hora de refletirmos, para também não cairmos em pecado.
Terça-feira – Dia 12.04
Jo 13, 21-33.36-38: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!”.
Ainda que Jesus já tivesse falado a seus discípulos sobre seus sofrimentos próximos, eles, imbuídos do que imaginavam seus patrícios sobre o Messias (rei poderoso, com exército, corte etc.), não o entendiam. Compreende-se, então, por que, após o Mestre os ter prevenido que estaria com eles por pouco tempo, São Pedro lhe tenha feito aquela pergunta: Senhor, para onde vais?
Parece que os apóstolos tinham se esquecido da vida após a morte. Talvez tenha acontecido o mesmo conosco. Embora a Quaresma seja tempo de conversão, os nossos afazeres ocupam toda a nossa vida. Importa pedir a Deus que aumente a nossa fé e pensar se estamos cumprindo nossa missão de amar tanto os nossos amigos quanto os nossos inimigos.
Quarta-feira – Dia 13.04
Mt 26, 14-25: “Mestre, serei eu?”. “Sim” — disse Jesus.”
Custa-nos compreender que o amor ao dinheiro tenha levado judas a vender o próprio Mestre (!). Jesus já tinha avisado aos seus seguidores: Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Nosso Salvador concluiu: Não podeis servir a Deus e à riqueza […1 São os pagãos que se preocupam com tudo isso (Mt 6,24.32).
Os Doze Apóstolos foram chamados por Jesus; todos o acompanharam, presenciaram seus milagres, ouviram sua Palavra… Entretanto, o amor ao dinheiro ilícito fez Judas se esquecer de tudo isso. É hora de compreendermos o perigo de deixarmo-nos levar pelos sentidos. Estes nunca dizem “basta”! São um abismo que atrai outros abismos. Rezemos: Salvai-me, Senhor, das fauces do leão (cf. Sl 41(42),8 e 21[22],22).
Quinta-feira – Dia 14.04
Jo 13, 1-15: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós”.
Diz-nos o texto sagrado que Jesus, sabendo que retornaria em breve para junto de seu Pai, quis dar aos apóstolos um exemplo de humildade, lavando os pés de cada um deles. Esse gesto era serviço de escravos, mas Jesus não titubeou em realizá-lo, mostrando-lhes o comportamento que deveriam manter uns com os outros no decorrer da missão que ele lhes havia confiado.
Logo após, explicou-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós (vv. 12-17). “Lavar os pés uns dos outros” significa estar atento para servir aos irmãos.
Sexta-feira – Dia 15.04
Jo 18, 1-19, 42: “Convém que um só homem morra em lugar do povo”.
Hoje, Sexta-Feira Santa, não há a celebração da Santa Missa. Há, porém, a “Ação litúrgica”, na qual, além de ouvirmos as leituras que nos remetem aos sofrimentos a que submeteram Jesus, antes de ser pregado na Cruz, podemos comungar. Os altares sem toalhas e o ambiente pouco iluminado querem representar externamente a tristeza que devemos sentir na alma.
Esse sentimento é concretizado na Adoração da Santa Cruz pelos fiéis. Por isso, no número 17 do Manual das Indulgências, está escrito que a Igreja concede Indulgência plenária aos que hoje participam piedosamente da veneração da Santa Cruz e beijam devotamente o Santo Lenho. Como em todas as cerimônias litúrgicas, devemos acompanhar esse ato com a mente e o coração contritos e agradecidos a Jesus.
Sábado – Dia 16.04
Lc 24, 1-12: “Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?”
Embora Jesus tivesse profetizado duas vezes que sofreria por parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, e que seria morto e ressuscitaria no terceiro dia (Mt 16,21; 17,22-23), todos os seus amigos tinham se esquecido disso. Seus apóstolos fecharam-se no cenáculo, com medo de também serem mortos pelas autoridades judaicas. As mulheres voltaram para casa, prepararam o bálsamo e os aromas, observaram o preceito do repouso sabatino e, no primeiro dia da semana, foram até o sepulcro.
Chegando lá, acharam a pedra que o lacrava removida; entraram, mas não encontraram o corpo de Jesus. Dois anjos anunciaram-lhes que Jesus havia ressuscitado, como antes o Mestre lhes tinha dito. Só então se lembraram de suas palavras (cf. 14 vv. 1-8). Para nós também, durante toda a Quaresma, Jesus falou de perdão, de misericórdia… Qual foi a nossa reação? 15 Examinemos a nossa consciência e, se encontrarmos algum pecado, arrependamo-nos dele para, hoje, ressuscitarmos com Jesus para uma vida nova!
Domingo – Dia 17.04
Jo 20, 1-19: “Então, entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu e creu.”
No Evangelho, vemos os apóstolos, que, sem dúvida, tristes pela morte do Mestre, permanecem fechados no Cenáculo, com medo dos judeus. Deus, porém, mostrando a mudança social provocada pela Ressurreição de seu Filho, serve-se de uma mulher (que era, então, desprezada pela sociedade judaica e cuja palavra não era levada a sério) para anunciar ao mundo que seu Filho muito amado tinha vencido a morte, ressuscitando ao terceiro dia, conforme havia profetizado!